Alunos do ensino médio gastam até 41 mil kwanzas por mês em trabalhos escolares
Os trabalhos que obrigam à utilização de meios informáticos contam para a avaliação contínua, mas nem todos os alunos estão em condições de os realizar, por falta de meios, num país em que o salário mínimo oscila entre os 32,2 mil Kz na agricultura e os 48,2 mil Kz no comércio e indústria extractiva.

Os alunos do ensino médio em Luanda chegam a gastar até 41 mil Kz por mês para a realização de trabalhos escolares, que contam para avaliação contínua, caso tenham de recorrer a um cyber, porque não têm computador em casa ou internet. Estes gastos cobrem os custos de ocupação do computador, tempo de internet, impressão e pagamento a um "mixeiro", que é uma espécie de dactilógrafo que digita os trabalhos no computador. Os preços dos trabalhos variam consoante o conteúdo, o tipo ou qualidade da impressão escolhida e o número de páginas. Ou seja, há quem gaste 3 mil Kz por trabalho.

Por semana, caso tenha três trabalhos de diferentes disciplinas para fazer e que o obriguem a gastar o mesmo valor, no final das contas vai desembolsar 9 mil Kz por semana e 36 mil Kz por mês. Mas se tivermos de olhar para o caso de Adelaide Andrade (nome fictício), estudante do 13º ano do curso de secretariado na Escola Comercial de Luanda, que encontramos num dos cybers que está localizado ao lado do Largo 1º de Maio, a conta será maior, porque ela teve de apresentar 4 trabalhos esta semana. Um custou-lhe 2.700 Kz, outro 3.450 Kz e o último 4.100 Kz, o que totalizou um gasto semanal de 10.250 Kz. Se tiver o mesmo número de trabalhos durante um mês, Adelaide terá de gastar 41.000 Kz.

Diferente dos casos anteriores, Docas de Fátima, que optou por usar também um nome fictício, teve de desembolsar 6.950 Kz para concluir um trabalho de psicologia que lhe foi pedido pelo professor. Fez seis horas num cyber, onde pagou 250 Kz por hora pela ocupação de um computador, num total de 1.500 Kz, a que somou 5.450 Kz pela impressão de 109 páginas. Ainda assim considera que "gastou pouco por ter sido ela a investigar e digitar o próprio trabalho".

Preços ao minuto

Os preços do uso do computador num cyber, com internet, estão fixados em minutos, decrescendo o valor com o aumento dos minutos gastos: a partir de 15 minutos custam 100 Kz, 30 minutos 150 Kz, 45 minutos 200 Kz, e 60 minutos 250 Kz. Para um aluno que vai fazer um trabalho escolar, acrescenta-se o pagamento da mão-de-obra. São 500 Kz por cada página para quem prefere mandar digitar, mais a impressão de cada folha - são 50 Kz para preto e branco e 100 Kz para colorido -, mais a capa do conteúdo. Se tiver direito a imagem a cores custa 500 Kz.

Os cybers que estão ao lado do Largo da Independência ou o 1.º de Maio são o ponto de referência para os estudantes das escolas e institutos médios do centro da cidade. Apesar dos cinco cybers que existem nas imediações, ainda assim são muitos os estudantes que reclamam e dizem que "os pontos para investigar e fazer trabalhos escolares são poucos".

Segundo constatamos, entre as 11h00 e as 16h00, são os períodos com maior fluxo nos cybers, onde os clientes são obrigados a marcar filas para ocupar um computador. Quem tem um orçamento mais folgado recorre a "biscateiro" ou "mixeiros", jovens com mais experiência no uso das novas tecnologias de informação, que ganham dinheiro ajudando a fazer trabalho escolares e a digitar documentos. Um estudante do curso de jornalismo do Instituto Médio de Economia de Luanda revelou que são eles que ajudam os alunos a "racionar um pouco mais o dinheiro, porque são mais ágeis e, com eles, gasta-se menos" dinheiro. "Eles investigam e digi[1]tam muito rápido", sublinha.

Reduzir preocupações

Mas há estudantes cujos pais ou encarregados de educação não têm condições financeiras para custear estas despesas. "É por isso que colocamos os filhos na escola pública para reduzir estas preocupações, mas há escolas que só pelo volume de trabalhos que exigem, associado aos livros e outras condições, é como se tivéssemos matriculado o filho numa instituição privada", reclama Afonso Pedro, pai de um estudante de informática no Instituto Médio Politécnico Alda Lara.

O professor Passi Luther King, que leciona na Escola Comercial de Luanda, defende que é também responsabilidade do docente entender a condição social e económica do aluno para saber lidar com questões do género. "Isto não quer dizer que o aluno que não fizer trabalhos escolares reprova de imediato. O professor deve ir a fundo, entender as razões do estudante e depois tentar encontrar uma solução para o avaliar", rematou. Só que este não é o entendimento geral e há muitos professores que não condescendem e exigem-no, independentemente das condições que os alunos tenham.

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