Indústria da lapidação nacional em crise sem acesso a diamantes
Sanções à Rússia e uma menor procura pelas pedras naturais têm causado sérias dificuldades à comercialização de diamantes angolanos, com efeitos directos na nascente indústria de lapidação nacional. SODIAM está a comprar diamantes para stock e para dar algum oxigénio às empresas do sector.

Os baixos preços dos diamantes no mercado internacional, causados por uma diminuição da procura devido às sanções à Rússia e pela elevada concorrência promovida pelos diamantes sintéticos, está a limitar o número de diamantes no mercado, realidade que começa a sufocar os operadores nacionais, como são os casos dos produtores de diamantes ou das fábricas de lapidação, que não têm acesso a matéria-prima e quando têm não conseguem vender.

"Há poucas semanas, vendemos em leilão pedras especiais em bruto. Foi uma boa venda, mas Catoca possui três produções que não consegue escoar", disse uma fonte oficial do Ministério dos Recursos Minerais, Petróleo e Gás (MIREMPET) ao Expansão, numa clara referência às dificuldades que as diamantíferas estão a encontrar para vender os diamantes naturais.

Neste contexto, para aliviar o aperto financeiro dos operadores, a referida fonte revelou que "a SODIAM está a comprar alguns diamantes para stock e a garantir que as diamantíferas continuam a operar no mercado angolano, sem reduzir as suas actividades produtivas".

Também as lapidadoras acabam por ser directamente afectadas, já que ficaram sem fornecedores de matéria-prima para transformação local. E mesmo se conseguissem importar este tipo de produtos, os baixos preços limitam as iniciativas devido às dificuldades na sua comercialização. A maior parte delas são provenientes de Investimento Directo Estrangeiro e começam a equacionar a viabilidade do investimento feito no País, apurou o Expansão.

O MIREMPET assegura que, para reverter o actual quadro do sector, é preciso investir na promoção e defesa internacional dos diamantes naturais, terminar a guerra na Ucrânia e eliminar as sanções à Rússia.

As sanções internacionais não tiveram grande efeito na vida interna russa, mas afectam directamente as grandes multinacionais com origem naquele país. É o caso da Alrosa, que é "apenas" o principal investidor externo e parceiro estratégico do sector diamantífero angolano nos últimos trinta anos. Neste momento, é muito difícil fazer negócios com empresas russas devido à retirada das suas instituições e agentes económicos do sistema financeiro internacional, materializado com a saída do sistema Swift.

Todas estas questões colocam a participação da Alrosa na mina de Catoca em sérios riscos, já que a sua presença na estrutura accionista está a limitar as actividades comerciais de uma das maiores empresas privadas do País. O facto de Catoca ser parceira da Alrosa também afasta potenciais compradores ocidentais, agora mais atentos à proveniência dos produtos.

Por outro lado, ainda não foram divulgados os dados oficiais sobre as perdas diárias com a queda dos preços dos diamantes no mercado internacional, mas vários especialistas consideram que as expectativas do Plano de Desenvolvimento Nacional (PDN) 2023-2027 para 2023, que indica uma produção de 12 milhões de quilates em Angola e uma receita bruta de 2,4 mil milhões USD, não serão atingidas.

Também o presidente do Conselho de Administração da Endiama, Ganga Júnior, disse recentemente à RNA que o País possui neste momento uma reserva de 1 milhão de quilates de diamantes.

O futuro será sintético?

Outro factor importante para o sector dos diamantes é o aumento da procura por diamantes sintéticos pelas joalharias de referência no mercado internacional, movimento que também arrefeceu a procura por pedras preciosas naturais produzidas e lapidadas em Angola.

Os EUA, a China e a Índia são os três principais consumidores de marcas de luxo, como é o caso das gemas naturais (pedras especiais), muito procuradas pelos melhores joalheiros.

De acordo com a fonte do MIREMPET, todos os principais compradores de diamantes naturais retraíram-se e esta realidade pode durar dois a três anos, na expectativa mais optimista. Em relação aos diamantes sintéticos, a retórica internacional também agita o mercado devido às preocupações ambientais e aos elevados custos sociais e de investimento financeiro associados ao extractivismo.

REAÇÕES

0
   
0
   
0
   
0
   
0
   
0
   
0
   
0