Famílias queixam-se dos preços ″exagerados″ dos materiais escolares
Os preços dos materiais escolares subiram para o dobro do que custavam em Agosto do ano passado e, nalguns casos, para o triplo. Pais vêem-se obrigados a escolher entre a escola ou garantir a cobertura das necessidades de casa.

Nem a educação foi poupada pela inflação gerada pela desvalorização da moeda nacional. Com o regresso às aulas, o novo dilema das famílias angolanas tem sido a compra dos materiais escolares, uma vez que as aulas começam no dia 4 de Setembro.

Pais e encarregados de educação que têm os filhos ou educandos a frequentar o ensino primário e secundário, bem como o I e II ciclo (da iniciação até ao 13.º ano) queixam-se da subida dos preços dos materiais escolares. Alegam que os valores subiram numa proporção bastante elevada que os obriga a gastar o dobro e, nalguns casos, o triplo do que gastaram no ano passado. E, perante isto, não há orçamento que aguente.

"Já sabemos que o preço de tudo subiu, mas o material escolar subiu "exageradamente" e muitos de nós têm poucas possibilidades. Por conta da perda do poder de compra, somos obrigados a escolher entre a comida ou dar material para as crianças irem à escola", lamentou Serafina Melvi, mãe de três crianças que estudam na 5ª, 6ª e 8ª classes.

Residente no distrito da Maianga, Serafina contou que em 2022 gastou apenas 35 mil Kz, cada, para compra dos materiais das filhas que frequentavam a 4ª e 5ª e 50 mil Kz para o material da 7ª classe. Para o ano lectivo 2023- -2024, a mulher já gastou mais de 150 mil Kz, o dobro do que gastou no ano passado. "Ainda assim, não comprei tudo. Para a outra, que vai fazer a 8ª classe, ainda não comprei nada e já fiquei sem dinheiro", sublinhou, acrescentando que, pelas contas que fez, pode gastar mais de 150 mil Kz só no material da última criança.

Estêvão Manuel, pai de quatro filhos, alega incapacidade financeira para comprar os materiais didácticos, uma vez que aufere um salário de 120 mil Kz.

"É deste valor que tiro a propina (7 mil Kz para cada criança), o material escolar, alimentação e outras despesas de casa e o táxi para ir para o trabalho. Com este salário e com a subida galopante das coisas, é impossível ter todas as crianças na escola", lamentou. Estêvão contou ainda que dos filhos que tem, apenas dois entraram no sistema de ensino. Dois ficaram de fora.

Mercado formal é mais caro...

Segundo apurou o Expansão numa ronda efectuada pelos mercados formais e informais de Luanda, os preços dos materiais escolares duplicaram e nalguns mercados triplicaram, como é o caso do preço de um caderno que em 2022 custou 899 e agora custa 1.499 Kz no supermercado Candando, uma subida de 67%. No Kero, em 2022, um afia-lápis foi comercializado a 249 Kz e agora custa 900 Kz, 26%, e uma mochila custava 5.000 Kz agora está a ser vendida a 11.000 Kz, que corresponde a um acréscimo de 120%.

No mercado informal, ao qual recorrem muitos pais e encarregados de educação, apesar da enorme diferença de preços se comparado ao formal, os materiais também registaram subidas. Por exemplo, no mercado do Asa Branca, o caderno que custava 200 Kz no ano passado, agora está a ser comercializado a 350 Kz, a mochila que custava 3.000 Kz agora está a 6.500. Já no mercado do São Paulo, a caixinha de 10 lapiseiras que custava 500 Kz subiu para 1.000 Kz, sendo que uma borracha que custava 50 Kz esta a ser vendida a 150 Kz.

Preços incompatíveis com as finanças das famílias

Para Alexandra Simeão, investigadora do Centro de Estudos e Investigação Científica (CEIC) da Universidade Católica de Angola (UCAN), a situação generalizada dos preços é incompatível com a capacidade das pessoas para comprar as coisas básicas para a sua sobrevivência e, pior, para a gestão da compra do material escolar.

Para a ex-ministra da Educação, quando o Estado diz que o ensino primário é obrigatório, deve prover condições para que as crianças possam frequentar a escola. "Isto envolve garantia de transporte às crianças, assistência escolar para aqueles que não tenham condições de comprar material e outros meios que incentivem a educação", disse.

Alexandra Simeão referiu ainda que, "com esta sequência de crises que o País vive, em que o salário não chega para comprar sequer alimentação para uma semana, é óbvio que entre comer e comprar material escolar as pessoas vão sempre escolher a alimentação", rematou.

REAÇÕES

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