Acompanhamos com bastante indignação o que aconteceu com o cantor Miguel Buila durante um evento que decorreu em Luanda, e que teve transmissão televisiva, aos olhos de todos, o cantor teve de se arrastar no verdadeiro sentido do termo para subir ao palco, falha ou ignorância da organização do evento?
O facto é que, o que aconteceu com Miguel Buila, é de resto a demonstração pública do que acontece com todas as pessoas especiais neste país, não é só no palco daquele evento que não havia uma rampa. Em algumas instituições públicas e privadas também não existem.
Passamos a maior parte do nosso tempo nas redes sociais dando credito a cantores que em plena situação dramática econômica exibem-se dormindo com dólares e no final do dia ainda ganham prêmios por demonstrarem o quanto são grandes em futilidades, e tudo isso, porque muito de nós votamos para que eles ganhassem.
Mas quando saímos a rua, são pessoas em condições de difícil mobilidade como o caso de Miguel Buila que vimos e que merecem sem dúvida alguma a atenção da sociedade. Afinal, muitos angolanos e angolanas adquiriram deficiências físicas fruto do conflito armado que vivemos, e até hoje algumas zonas do território angolano ainda registam a presença de minas. Esses angolanos e angolanas, não merecem passar por mais uma guerra, a guerra da inclusão!
Estamos com as atenções desviadas da dignidade das pessoas e se calhar, ninguém na organização daquele evento sabia que ainda este ano as pessoas com deficiência marcharam em Luanda em prol de maior inclusão.
Se calhar as pessoas que depois se voltaram com discursos de “Portadores” não sabem que desde a entrada em vigor da Convenção Internacional Sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência que a terminologia passou a ser "Pessoas com Deficiência” sendo mesmo que o Ministério da Acção Social, Família e Promoção da Mulher, tem lançada uma cartilha sobre a evolução da terminologia relativa à Pessoa com Deficiência em Angola.
Se calhar os cobradores de candongueiros não sabem que as pessoas com deficiência também têm direitos tais como as pessoas sem deficiência, e talvez seja por isso que ainda este ano (28 de Abril de 2018) a ANEUD (Associação Nacional de Estudantes Universitários com Deficiência) promoveu em Luanda uma campanha de sensibilização aos taxistas como o seguinte lema;
“Passageiro número um, Eu também sou passageiro, a minha cadeira é parte do meu corpo, ela vai aonde eu vou”.
É importante que repensemos para quem e para onde devemos voltar as nossas atenções, pois situações como essas são bastante recorrentes, basta pensar nos escritórios das instituições públicas e privadas que se encontram em prédios sem elevadores na nossa cidade velha.
E se alguém questionar, se há diplomas que protegem, defendem as pessoas com deficiência a resposta seria agradável, pois a própria Constituição da República como cabeça do ordenamento jurídico angolano começa por proteger as pessoas com deficiência e depois uma lei ordinária (Lei n. 10/16, de 27 de Julho - LEI DAS ACESSIBILIDADES) chamamos a atenção para o Art.º 45º.
Define que PRÁTICAS DISCRIMINATÓRIAS, como sendo, as acções ou omissões, dolosas ou negligentes, que, em razão da deficiência, violem o PRINCÍPIO DA IGUALDADE, designadamente: a recusa ou limitação de acesso ao meio edificado...), veio dar maior resposta a situação.
Opinião de Imisi de AlmeidaOs diplomas já cá estão, e a sua eficácia? E na minha pequenez... pensei...