E nós, nada de efeito Catch Up?!?
O conceito de Catch-Up tem sido várias vezes utilizado em diferentes perspectivas para referir-se à uma abordagem ou estratégia que visa tirar vantagem em uma situação de desvantagem em relação à concorrência, seja ela explícita ou implícita, ou ainda para recuperar o tempo perdido numa determinada situação com vista a manter-se na posição em que se encontram os seus pares

Por exemplo, quando uma equipa de futebol que começa um campeonato ou um jogo a perder, adaptando-se a realidade objectiva, tenta dar a volta por cima do adversário, levando o resultado a seu favor, tipo Portugal no Euro 2016. (They were playingcatch up).

Trago este tema em consequência de constatações recorrentes sobre posições sociais divergentes nesta rede, por causa do apoio de certos negros africanos aos descendentes daqueles que um dia escravizaram os nossos ancestrais: o branco europeu de hoje.

 Eu vou colocar o Conceito de Catch-Up em duas perspectivas em que estão cientificamente provadas os seus efeitos positivos: Econômica e Social.

Do ponto de vista econômico está provada a hipótese segundo a qual as economias pobres (com baixos rendimentos per capita) num dado período tendem a verificar taxas decrescimento econômico mais rápidas do que a dos países ricos. Isso acontece por causa dos rendimentos marginais decrescentes da produtividade “agregada” sobre tudo do capital e da força de trabalho dos países ricos. Ou seja, na medida em que essas economias “do primeiro mundo” vão aumentando a quantidade de utilização de um desses factores de produção, o produto marginal (adicional) resultante desse incremento vai se reduzindo se todos os demais factores permanecerem constantes. E verifica-se isso desde o começo do século XX a estagnação da taxa de crescimento demográfico na  Europa e chegando mesmo a ter nalguns países um crescimento vegetativo negativo.

Nesta ordem de ideias, os países menos desenvolvidos tendem a verificar taxas de crescimento mais rápidas resultantes do efeito de catch-up associado à estes rendimentos decrescentes dos países desenvolvidos, pois tendem a replicar os métodos de produção, a tecnologia e nalguns casos as formas de organização social e política que melhor se adequam as suas realidades, pois se a roda já foi inventada, à estes países apenas cabe aperfeiçoá-la.

À título de exemplo, vejamos o que aconteceu com alguns países asiáticos como o Japão, a Korea do Sul, Singapura e Taiwan nos anos 60 e 70 do século passado e de lá para cá, o milagre da China!

O crescimento econômico da China pode ser paradigmático, basta olharmos para a primeira imagem desta publicação (a taxa de crescimento do produto interno bruto dos EUA e da CHINA). 

Esta ideia de se fazer o Catch Up, também conhecida por convergência econômica conforme enfatizada pelos economistas Moses Abramovitz e Paul A. David em sua obra Convergence and Deferred Catch-up (Stanford University) pode ser condiciona da pela limitação (ou auto-limitação) na habilidade dos países pobres absorverem as novas tecnologias, atraírem novos investimentos de capital produtivo e participar nos mercados internacionais.

Podemos ainda enquadrar essa convergência como sendo sócio-cultural, comunicativa, de inteligência colectiva e participativa conforme descrita por Henry Jerkins (do prestigiado Instituto de Tecnologias do Massachutts “MIT”) na sua obra publicada em português em 2008 com o título “Homónimo” ou “Cultura de Convergência”, originalmente publicada em inglês em 2006 como “Convergence culture: Where Old and New Media Collide”.

Estas auto-limitações e/ou auto-exclusões que quase sempre estão associadas à conceitos como nacionalismo divergente, que incentivam a manifestação de desinteresse pelo know-how e alguns valores que foram conseguidos pelas nações desenvolvidas à custa do nosso subdesenvolvimento pela escravatura de negros, a colonização e a segregação racial, contribuem muito mais negativamente para o nosso contínuo subdesenvolvimento por se fecharem à adopção de políticas sociais e econômicas abertas ao mundo.

E para que haja essa convergência é necessário que o intercâmbio “natural” entre os povos seja fluente, a partilha de valores como a solidariedade, a fraternidade e partilha de educação sejam a principal arma para que se atinja a tão almejada igualdade entre todos. Pois como a hipótese de convergência pressupõe, a dada altura,como resultado todas as economias e sociedades convergirão em termos de rendimentos per capita, e talvez em termos de índice de desenvolvimento humano.

Não consigo entender a aversão que muitos africanos têm ao facto de outros africanos apoiarem uma doutrina europeia, uma selecção de futebol que não seja a nossa,enfim… uma aversão ao homem branco mesmo que isso não signifique a negação da nossa natureza enquanto africanos. Não são actos mutuamente exclusivos

É compreensível que isso exista, o sentimento de mágoa, dói saber que muito do que os europeus de hoje beneficiam deriva do sacrifício imposto aos nossos antepassados, mas não é compreensível que esta mágoa seja tão forte a tal ponto de não quisermos tirar proveito disso e fazer o Catch Up!

É convergente o facto de termos negros a jogarem por equipas de países maioritariamente de brancos como a França, assim como o é, brancos a jogarem por uma nação maioritariamente de negros como a África do Sul. Porque afinal de contas muitos dos nossos escolheram por opção seguir as suas vidas nesses países.

É convergente enviarmos os nossos melhores jovens para estudarem nas melhores universidades americanas, europeias e asiáticas para deles fazermos o catch up do conhecimento universal acumulado por mais de 500 anos.

É divergente quando esses nossos contemporâneos são estigmatizados por naturais desses países por simplesmente tentarem fazer o catch up, assim como é quando alguém de nós faz o mesmo cá.

Por quê tanta divergência se podemos tão simplesmente fazer o catch up?

O melhor e mais simples exemplo de “CATCH UP” verifica-se quando uma pessoa nascida nas zonas mais recônditas de uma sociedade, consegue ascender com mérito aos lugares cimeiros dessa sociedade, como aquele jovem que emigrou do Chongorói e conseguir se afirmar em Luanda.

Se a soma das partes é maior que o todo, então quanto mais indivíduos estiverem dispostos em fazer o catch up, as chances da nossa nação fazer o mesmo como um todo, serão muito maiores.

Eu faço catch up, sou da convergência e do desenvolvimento. E tu?

Por Inocêncio Das Neves - Docente Universitário, Contabilista e Consultor de Gestão de Empresas

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