Teste RT-PCR em Angola mais caro da SADC
Preço do teste RT-PCR, exigido em viagens internacionais, em Angola, chega a ser cinco vezes mais caro se comparado a certos países da Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral (SADC). Especialista explica que preços são influenciados pelo monopólio existente no mercado, enquanto economista sugere fixação de limites.

Os preços dos testes RT-PCR praticados pelas clínicas e laboratórios públicos e privados em Angola são os mais caros, se comparados aos cobrados pelos 13 países integrantes da SADC. Há casos em que Angola chega a cobrar quatro vezes mais, apesar do diferenciado serviço prestado pelos outros países. 

Na vizinha Namíbia, por exemplo, apesar de os laboratórios e hospitais privados cobrarem o equivalente a 47.471 kwanzas para o teste com resultado de até 48 horas, os técnicos deslocam-se ao domicílio do utente para fazer colheita e entregam o resultado no aeroporto, na altura da viagem, ou ainda em casa. Já o urgente custa o equivalente a 83.074 kwanzas, sem o utente sequer sair da zona de conforto e demora, em média, seis horas. Já, em Luanda, na Clínica Girassol, a mais cara entre os privados e sem qualquer atendimento diferenciado, o teste rápido custa 193 mil kwanzas e o de 24 horas 135 mil, quase três vezes acima dos laboratórios da Namíbia.

Se a opção for pelos laboratórios públicos, paga-se pelo RT-PCR cerca de 33 mil kwanzas (55 dólares) no país vizinho. Este valor é mais de quatro vezes abaixo do que os 150 mil kwanzas que cobra o Centro de Diagnóstico Laboratorial de Viana, afecto ao Ministério da Saúde, para os testes rápidos, e mais de duas vezes abaixo dos 75 mil kwanzas para os testes de 24 horas.

O mesmo serviço diferenciado é constatado na Zâmbia, onde, através de um simples telefonema ou solicitação via internet, os profissionais da saúde procedem à colecta nos aposentos. Pelo teste, é cobrado o equivalente a até 89.008 kwanzas, menos 30 mil kwanzas do que cobra a clínica Cligest, a mais barata em Luanda, e menos 104 do que exige a Girassol.

Mais distanciados são ainda os preços angolanos, se a comparação for ao vizinho do Norte. Os 35 dólares (20.930 kwanzas) exigidos no Congo Democrático nos laboratórios públicos para os testes de 24 horas estão mais de três vezes abaixo dos 125,4 dólares (75 mil kwanzas) cobrados pelo laboratório da Saúde em Viana. E os 45 dólares (26.910 kwanzas) que se pagam nos privados da RDC são cinco vezes abaixo dos 225,7 dólares (135 mil kwanzas) que factura a Girassol da Sonangol.

De acordo com um especialista em saúde, que não quis expor a identidade por temer represálias, os preços elevados são consequência do monopólio existente no mercado. Explica que algumas clínicas em Angola funcionam como espécie de intermediárias, daí só entregarem o teste depois de 24 horas, a depender da quantidade colectada. 

“Há grupos a controlarem. Infelizmente, é assim aqui em Angola, próprio de países vergonhosos em que uns enriquecem enquanto há pessoas a morrer,” lamenta, sublinhado que, “se permitirem que as pessoas importem os testes, o preço vai baixar, porque hoje, para importar, são exigidos inúmeros requisitos”.

Embora esteja na categoria dos preços livres, o especialista insiste na necessidade de envolver mais hospitais privados e laboratórios. “Estamos numa economia de mercado, era preciso deixar fazer os preços que quiserem, mas também permitirem que as pessoas invistam no teste. O problema é que muitos desses sítios que cobram a 130 a 150 mil não são eles que processam, fazem colheitas e, quando juntam um bom número, levam ao hospital de Viana, Girassol, Multiperfil, são intermediários”, explica. 

Eduardo Manuel, economista, defende, por seu lado, a necessidade de se colocar um preço limite nos testes, a julgar pela utilidade destes no combate à covid-19, medida que se seria acompanhada de um reforço da parceria do Estado com as instituições de saúde privadas. “É necessário que toda a população, independentemente do seu poder de compra, possa ter acesso a este serviço, tratando-se de um problema existente a nível mundial. Mas, para o efeito, devemos reconhecer que a definição de um preço limite obrigará a uma concertação entre o Governo e as instituições de saúde privadas, para que essas possam ser compensadas de eventuais perdas, pelo facto de terem de definir novos preços que poderão ficar abaixo dos custos de aquisição de todo o material necessário para os testes”, sugere.

Entretanto, das seis instituições de saúde privadas (na tabela), apenas a Cidil reduziu o preço do teste esta semana. Dos anteriores 150 a 160 mil kwanzas, com entrega do resultado no intervalo de 24 horas, baixou para os 134 mil kwanzas. Algumas unidades privadas adquirem o equipamento na África do Sul, na representante da farmacêutica norte-americana Abbott. Em Angola também é possível comprar, a máquina de processamento do teste RT-PCR custa 200 milhões de kwanzas.

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