Mesmo morto Azagaia provoca pesadelo ao governo de Moçambique que usa força para reprimir o povo
Várias pessoas que foram alvo de gás lacrimogéneo e de carga policial em Maputo, capital de Moçambique, dirigiram palavras de ordem ao Presidente moçambicano face à violência contra a marcha pacífica de homenagem ao ‘rapper’ Azagaia.

“Presidente, responda-nos: somos criminosos? Somos insurgentes? Porque é que estamos a ser atacados”, questionou uma mulher numa das ruas da capital, durante a intervenção policial, e em direto numa televisão local, dirigindo-se diretamente a Filipe Nyusi.

“Eu não tenho arma”, referiu, de mãos no ar, sublinhando o “direito à manifestação”.

Noutro ponto do centro da cidade, a polícia atirava gás lacrimogéneo contra os participantes na marcha – que nem chegou a começar – sob o olhar incrédulo de Inocêncio Manhique, jovem de 24 anos, um dos integrantes.

“O que está a acontecer é uma barbárie. É o neocolonialismo, é a falta de respeito que os nossos governantes têm [para com o povo], os de lá de cima: estamos a falar de Nyusi e os demais”, disse. 

Mesmo face à ação da polícia, referiu: “Não havemos de parar”.

“Querem-me matar à bala? Eu já morro de fome. Uma bala vai-me matar em menos de 30 segundos, mas a fome mata-me todos os dias, desgraça-me a mente”, destacou.

Sete é o nome artístico de um músico que ia participar na marcha e que agora é mais um dos “indignados” com a ação da polícia.

“Somos o povo que deve ser ouvido. A marcha era a forma de nos escutarem, mas parece que nem a isso temos direito. Não temos livre expressão”, destacou.

“Só podemos continuar a marchar e ver onde vamos chegar, não podemos parar, temos de tentar mobilizar ouros jovens”, acrescentou.

Quitéria Guirrengane, umas das organizadoras, pede “responsabilização ao mais alto nível”, referindo que “o presidente do município e o Presidente da República são os únicos responsáveis pela desordem neste país”, numa alusão a distúrbios noutras cidades onde também deviam decorrer marchas de homenagem a Azagaia.

“Quando uma pessoa não está segura na cadeira que ocupa, é isso que acontece”, acrescentou, rematando: “O povo pede comida e respondem com pedras”.

Aquela responsável assegurou que os organizadores cumpriram com tudo o que as leis e instituições consagram e “em altura alguma comunicaram que se violava” algum aspeto legal.

Mas houve polícias que hoje admitiram haver “ordens superiores” para travar as marchas.

“Tragam-nos o rosto dessas ordens superiores”, pediu Quitéria Guirrengane, fazendo referência a um autarca de outro ponto do país que também fez a referência a essas “ordens superiores” num documento proibindo a marcha.

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