“A presidência e os serviços de segurança é que mandam na TPA”, revela ex-PCA da televisão pública
A revelação é de José Guerreiro no livro “EU, O MEU PERCURSO, O MEU PARTIDO”.

A Televisão Pública de Angola, onde desempenhou o cargo de presidente do conselho de administração, José Guerreiro descreve no livro que a televisão paga com o dinheiro de todos os contribuintes angolanos “tem andado ao sabor dos ventos, ao longo dos anos”.

“A TPA não tem e nunca teve vida própria e autonomia! E essa falta de vida própria, de parcialidade da linha editorial, de incumprimento das regras e princípios do jornalismo, da deontologia profissional, têm a ver, não basicamente com o excesso de zelo dos jornalistas (o que é ofensivo para eles, face às pressões directas, indirectas ou subalimentares que sofrem), mas porque a mesma é dirigida, directamente e/ou indirectamente, pelo Ministério de Tutela, pelo Partido no Poder, por detrás dos serviços de segurança e por estruturas do Palácio Presidencial”, escreveu.

E não ficou por aí. O antigo PCA da TPA, que desempenhou ainda funções relevantes no quadro da campanha eleitoral do MPLA nas eleições de 1992, 2008 e 2012, trouxe ainda à tona o que muitos têm apenas a noção, mas que, no seu caso, fala por conhecimento de causa.

“A comunicação social pública e as suas redacções, quando estão em causa assuntos de natureza política e, também, alguns de natureza económica e social, não têm autonomia para o exercício da profissão”, escreve no capítulo dedicado a breves reflexões sobre a TPA.

Soube da sua exoneração 15 minutos antes da divulgação

Ao longo das 290 páginas, o autor conta, pela primeira vez, as circunstâncias em que foi afastado da direcção da principal estação televisiva pública do País. Antes, porém, lembra o momento em que foi convidado pelo então ministro do extinto ministério da Comunicação Social João Melo, numa altura em que se encontrava em visita privada a Cabo Verde. “Recebi um e depois sucessivos telefonemas do ministro João Melo (de quem era e sou amigo), primeiro a convidar-me a assumir o cargo de PCA da TPA, depois a trocar ideias sobre a composição das equipas dos vários órgãos de comunicação social”…

Quando assumiu as funções, encarou “o desafio com muito entusiasmo”, orgulhando-se de ter colocado a TPA ao serviço do País no quadro das “mudanças políticas e esperança que se  vivia no período de transição da presidência de José Eduardo dos Santos para a de João Lourenço”.

Tudo parecia andar numa perfeição, quando, às 19h45, do dia 15 de Outubro de 2018, momento em que se preparava para jantar, é convocado pelo ministro Melo para uma reunião de emergência na sede da estação televisiva. No encontro, juntou-se Francisco Mendes, então administrador de conteúdos (o mais directo e alto responsável editorial do Telejornal), que tinha acabado de chegar do Palácio. Colocado numa situação complicadíssima, onde a sua opinião não foi dita nem achada, a João Melo coube apenas o papel de mensageiro, informando “que o Senhor Presidente João Lourenço comunicara, no final de uma reunião convocada com alguns Ministros, para outros efeitos, que dera instruções para que eu fosse exonerado”.

“O que ele, Ministro, teria depreendido das parcas palavras que ouviu do Senhor Presidente a propósito é que estaria descontente com uma reportagem exibida no Telejornal da TPA no dia anterior, relativa ao combate à corrupção”, escreve Guerreiro.

Convicto das suas obrigações profissionais e, claro, algo desapontado com o que acabara de lhe ser transmitido, José Guerreiro não saiu daquele gabinete para onde fora chamado, sem antes dizer o seguinte: “Se isto fosse um País a sério, tu, Ministro e tu, Francisco Mendes, deveriam de imediato pedir demissão”. De seguida, José Guerreiro abandonou o gabinete e voltou para o local onde estava, para concluir o jantar e ouvir no Telejornal a leitura do Despacho Presidencial da sua exoneração.

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