Entrevista sobre o estado do Feminismo em Angola
A blogger Elisete Lourenço, foi a convidada do portal Angola-Online.net, para uma conversa agradável sobre o estado do Feminismo em Angola.

Como deveria ser o posicionamento da mulher angolana em relação à violência doméstica e o feminismo?

Penso que o primeiro posicionamento deveria ser de aprendizado, acho que todos, tanto homens como mulheres, precisam saber mais sobre o movimento e às suas razões, por que o facto de eu ser mulher não me torna apta para falar sobre o feminismo, é preciso conhecer. 

Porquê? 

Porque essa história de que sempre foi assim já não cola, as mudanças estão aí e elas não vão pedir licença para entrar.

E como fazer perceber tais mudanças?

Inicialmente pelas mulheres mais velhas elas precisam aprender qual é a visão social de agora, e questionar porquê que era assim, e agora está assim, e o mais importante saber reconhecer as fragilidades. 

Nem tudo que é antigo é mau, existem coisas que as nossas mães passaram para nós que dá para se estabelecer e repetir com o tempo, mas existem outras coisas que elas repetiram sem entender o fundamento, apenas foram repetindo um comportamento sem elas perceberem o que se estava a passar. 

Porquê que elas precisavam de preparar a água do banho, quando os homens alegam ser superiores fisicamente, eu acho que existem coisas que precisamos questionar.

Então precisa-se fazer um ajuste nas vivências passadas com a nova dinâmica do mundo?

Exactamente, por que nós precisamos nos adaptar, dizem que quem não se adapta morre, é a lei da sobrevivência. Eu vejo alguns homens acharem que o feminismo tem de pedir autorização para eles, como uma espécie de consentimento para acontecer. 

E como devemos nos adoptar?

A nossa sociedade é das mais demoradas em adoptar o feminismo, por que em outros lugares já lá vão séculos de luta, mas aqui pensamos que é uma luta recente. Foram precisos anos de frustrações para se chegar até aqui.

Mas apesar da grande luta e de movimentos que foram surgindo ao longo dos anos como o "Me Too", sente-se ainda um pequeno impasse, não é doloroso?

Não é só doloroso, como frustrante também, porque convivo muito com homens pela profissão que exerço, que é adoptada socialmente como masculina. 

E o que noto algumas vezes é que os homens não fazem por mal, eles só não sabem ser de outra maneira, porque o machismo não é um plano arquitectado, mas é, como eles foram criados, e aí precisamos abrir uma brecha. 

"Mas o que me frustra é a dificuldade que as pessoas têm de parar e ouvir o outro", disse.

Como assim?

Porque muitos não percebem o movimento, eles não fazem ideia do que é. O mais complicado é que eu posso avançar hoje, algumas etapas aqui consigo, mas eu vou chegar em outra pessoa e começar do zero. 

O que tem faltado? 

Temos de permitir sermos educados, principalmente por quem entende da matéria. Uma vez alguém disse para mim que as feministas deveriam fazer melhor, e eu me senti confrontada, por que é muito estranho um branco ensinar um negro a ser negro, e quando tu pisas no pé de alguém e essa pessoa reclama, tu não justificas, tu paras porque tu não sentiste a dor, e é exactamente assim com o machismo. 

Quando eu digo que estas a ser machistas, eu não quero que tu justificas, mas que pares.

Considera-se feminista?

Não sei se me considero feminista, por que conhecendo o histórico daquilo que é o feminismo, fiz muito pouco, mas acredito que é muito difícil, e vou citar a Oprah, que diz o seguinte:

“É muito difícil vivermos nos tempos actuais e como mulher não nos identificarmos com o feminismo”. 

Em que conclusão podemos chegar? 

Hipocrisia minha se fosse contra a um movimento que me favorece, não digo que todo o mundo precisa ser feminista assumida e militante, mas acho que toda a mulher precisa se identificar, porque se não nós estaremos a nos privilegiar de coisas que outras mulheres lutam.

Qual é o estado do Feminismo em Angola?

O trabalho a ser feito é árduo, e ainda não se fala do essencial, não se educa o essencial. Queremos debater e não queremos aprender, e muitas das vezes o debate é apenas retrocar o que o outro disse, ouvir para responder e não para aprender, não ouvir para identificar as fragilidades no meu discurso que o outro completa. 

Tem sido difícil? 

Só que a nossa sociedade ainda tem muitos detalhes soltos que atrapalham ou confundem a própria luta. Temos muitas mulheres artistas, mas falta nelas uma boa representatividade, elas são boas, talentosas, mas não têm um posicionamento social, e isso me preocupa porque toda arte tem de ser representativa.

Para saber mais sobre a nossa entrevistada clica aqui!

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